sexta-feira, 20 de abril de 2012

A VILA E V E V DE VINGANÇA: DOIS FILMES REFLEXIVOS PARTE 1

Durante duas semanas, fiquei exaustivamente assistindo dois interessantes filmes em casa em DVD, emprestado por um amigo do Pilates, cujos enredos carregam diferentes abordagens, mas em comum carregam toda uma atmosfera cheia de segredos, ambos não são produções recentes e ambas em diferentes momentos, eu havia assistido apenas uma vez, estou falando de “A VILA” e “V DE VINGANÇA.”




A VILA E A ANTROPOLOGIA.
O filme “A Vila”, uma produção norte-americana do gênero suspense dirigida, produzida e roteirizada por M. Nigth Shyamalan, o mesmo responsável por “O Sexto Sentido”(1999), filme que representou um marco importante para sua carreira, pois ele foi como posso descrever, um divisor de águas, a partir dele que o diretor passou a firmar seu nome em Hollywood, isso porque ele arrancou uma ótima bilheteria, foi a segunda maior bilheteria nos Estados Unidos, onde contava a incrível saga do psicólogo infantil Malcom Crowe, papel de Bruce Willis, que um ano depois protagonizaria outro filme do diretor, o mediano “Corpo Fechado”(2000), se envolve, quer dizer mais do que se envolve resolve abraçar com dedicação o caso do garoto de 8 anos Cole Sear, papel de Haley Joel Osment, cujo bom desempenho no papel, rendeu para o filme uma situação até inusitada, isso porque Haley Joel Osment se tornou digamos assim, então com apenas 11 anos o ator mais jovem a concorrer a estatueta de melhor ator. Não era para menos, até porque o menino soube desempenhar o papel do perturbado menino que apresenta dificuldades em seu entrosamento de convívio escolar e sofre constantes perturbações por ver os mortos, usando sempre a famosa fase que dava medo para qualquer um: “Eu vejo gente morta”, representou um marco importante para o diretor, ele nesse filme começou a mostrar a que veio, com um estilo de suspense muito peculiar.






Bom, mas voltando a falar de “A Vila”, lançado nos cinemas em 2004, esse interessante filme, do qual eu pessoalmente só tinha assistido apenas uma vez, durante uma aula em minha Universidade, quando paguei a disciplina de Antropologia Cultural, graduando o curso de História, no Segundo Semestre de 2006. Quando esse meu amigo me emprestou esse filme para eu poder apreciar, eu assim fiquei bastante lisonjeado, em ter o privilegio de assistir de novo e observar momentos e cenas das quais eu pouco lembrava. Foi algo fascinante observar nesse filme que carrega um elenco brilhantemente de peso: Sigoruney Weaver, ( a eterna Tenente Ripley do clássico terror mesclado com ficção cientifica “Alien-O Oitavo Passageiro” em 1979, no papel de Alice Hunt), William Hurt(Ganhador do Oscar de melhor ator por “O Beijo da Mulher-Aranha” em 1985, no papel de Edward Walker), Joaquin Phoenix( que para mim sempre será lembrado como o inescrupuloso Imperador Romano Cômodus de “Gladiador” em 2000, no papel do ferreiro Lucius Hunt, filho de Alice Hunt), em seu segundo filme dirigido por M. Night Shymalan, o primeiro fora em “Sinais”(2002) e Adrien Brody(Ganhador do Oscar de melhor ator pelo seu bom desempenho interpretando Wlajslav Spilzman, o pianista polonês em sua difícil trajetória durante a Segunda Guerra Mundial, em uma Polônia devastada, em “O Pianista”em 2002, no papel de Noah Percy, um rapaz que sofre de sérios transtornos mentais.)



A Vila tem uma interessante característica, onde como eu já havia explicado antes, além de girar em torno da atmosfera dos muitos segredos, também gira em torno da ideia de “As Aparências Enganam”. Como assim, primeiramente que a história do filme do começo ao fim, aparentemente gira em torno da característica de mostrar um povoado da Pensilvânia, vivendo de uma maneira como era no século 19, mostrando como é eles viverem nesse vilarejo completamente isolado das coisas da modernidade, onde eles não usavam de dinheiro, sobreviviam apenas da terra e da criação de animais, aparentemente a trama do filme parece girar em torno de ser ambientado em uma época do século 19, pela forma das vestimentas simplistas que o povo camponês desse vilarejo se veste e também pelas ideias conservadoras de preservarem a inocência através da ignorância, o modo de vida deles nesse lugar era tão conservador, que eles nunca deixam as pessoas saírem de seus limites, a quem eles se referem como as outras cidades. O local é administrado por conselheiros, entre eles está Edward Walker(Willian Hurt), pai de Kitty e Ivy, uma jovem cega, que nutre um amor pelo ferreiro Lucius Hunt(Joaquin Phoenix), filho de Alice Hunt(Sigourney Weaver), uma das conselheiras da vila, que no primeiro momento do filme ele passa pela inusitada situação de ser pedido em casamento por Kitty(Judy Greer), mas acaba se recusando, quando o seu coração bati forte a era por Ivy(Bryce Dalla-Howard). Ivy e Lucius são os únicos nessa vila que se interagem com Noah Percy(Adrien Brody), um sujeito que sofre de um desequilíbrio mental, e que sente uma forte atração platônica por Ivy. Em todo o contexto envolvendo os personagens da trama também ocorre o pânico de todo o povoado em decorrência das estranhas aparições de animais multilados, eles estariam todos ligados à figura de uma horrenda criatura demoníaca da qual todos ali tem o maior pavor, essa tal criatura se trata de ninguém mais, ninguém menos do que “Aqueles que não Mencionamos”, ele é como se fosse um Lobisomem, com capa vermelha e com garras, que é o responsável por apavorar todos desse povoado, que me faz remeter ao Chupa-Cabra, uma misteriosa criatura cujos relatos ocorreram em meados dos anos 1990, em vários países do continente americano, Estados Unidos, Brasil, México,Nicarágua, Chile e cujo primeiro ataque registrado aconteceu em Porto Rico, em Março de 1995. Criatura lendária, que assim como “Aqueles que Não Mencionamos”, também atacava vários animais de regiões rurais, entre esses animais mortos estavam na maioria as cabras com as marcas de dentadas no pescoço e com seu sangue alegadamente drenado, daí ter inspirado o nome da lendária figura de “Chupa-Cabra”, daí o porque eu fiz essa comparação com o “Aquele que não Mencionamos”. O medo que todos têm por essa tal criatura demoníaca é tamanha, que toda que eles olham alguma coisa de cor vermelha, fica logo com medo, achando que podia ser a presença de “Aqueles que não Mencionamos”, é tanto que numa cena mostrando duas mulheres passando a vassoura na varanda da casa delas, ao verem uma rosa vermelha bem próxima da casa dela, a arranca da terra e resolve enterra-la. Em contrapartida, os habitantes do lugar ao vagarem pela floresta de folhas secas próximas da vila, usando capas de cor amarela, numa bela brincadeira de cores que o filme faz entre essas duas cores que simbolizam tudo ligado as cores quentes. A criatura responsável por amedrontar todos na vila, denominada de “Aqueles que não mencionamos”, é um dos quebra-cabeças que enchem toda a atmosfera cheia de segredos envolvendo todo o enredo de “A Vila”. O filme apresenta cada momento curioso que apresenta um quebra-cabeça atrás do outro, para que o espectador fique tentando decifrar os muitos enigmas dos segredos escondidos em cada membro daquele povoado, e principalmente em se tratando da lendária figura demoníaca dos “Aqueles que Não Mencionamos”, os animais, a maioria morta e sem suas lãs. Outro momento do filme que também é cheio de quebra-cabeças, é quando o ferreiro Lucius Hunt, ao observar Noar carregar em sua mão, uma fruta vermelha, cor da qual naquele lugar não é permitido olhar por simbolizar a demoníaca criatura com capa vermelha, e achando estranho o fato daquele tipo de fruta não ser comum lá dentro, ele resolve então perguntar para Noah de onde ele achou, e Noah responde que o encontrou fora dos limites do povoado, então Lucius resolve investigar e vai até a inóspita Floresta de Corvinton, e lá fica intrigado ao ver no local onde estão colhidas as frutas vermelhas, tem um desenho muito estranho, simbolizando alguma coisa que foi criada por “Aquele que não Mencionamos”, e resolve tenta várias vezes em vão pedir permissão aos Conselheiros da Vila, para ir ao que eles denominam de as outras cidades para descobrir tudo de mais estranho naquele local, que antes daqueles acontecimentos era tranquilo e harmonioso. Em outro momento do filme, o espectador fica sabendo de outro quebra-cabeça, que é quando a Senhorita Clark, uma das Conselheiras da Vila, no momento em que estava sentada junto com Ivy, no jardim da vila, na espera pela cerimônia do casamento de Kitty Walker, irmã mais velha de Ivy, ela então ouvi a Senhora Clark lhe contar o segredo que a irmã dela havia assassinada quando tinha 23 anos. Horas depois já depois já na hora da cerimônia do casamento de Kitty, enquanto que todos ali estavam felizes, dançando alegremente, acontece o inesperado, que é quando todos ouvem o barulho do vulto, um uivo que dava sinal de que o “Aquele que não Mencionamos” estava ali presente, o pavor é tamanho, quando todos saem da cerimônia ficam pasmos ao verem as todas às ovelhas completamente multiladas, provavelmente pela criatura a quem todos no vilarejo morrem de medo. Em paralelo, a todos esses acontecimentos, Lucius Hunt e Ivy Walker, acabam declarando-se um para o outro, e resolvem então anunciar para todos na vila que iriam se casar, é nesse momento que a irmã de Ivy, Kitty chega para ela e conformada com a situação, abre o jogo sobre os seus sentimentos por Lucius, e sem guardar mágoa por ter sido recusada por Lucius, e vê ele se casar com Ivy, resolve desejar felicidade para irmã, quanto que Lucius, recebe em sua casa, a visita de Noah Percy, que inconformado com a noticia do casamento dele com Ivy, resolve matá-lo enfiando uma faca em Lucius, que o coloca entre a vida e a morte. É a partir desse momento que dá inicio ao momento mais tenso do filme, onde no momento em que todos no vilarejo ficam pavorosos ao saber que Noah tinha esfaqueado alguém, mas não disse quem era Ivy começa a deduzir que era Lucius, e ela então resolve correr em direção a casa dele numa bonita cena bem enquadrada e cheia de emoção. E ao chegar lá e sentir ele caído no chão, Ivy vai então até a casa de Noah, onde ele então vivia enclausurado desde o momento do fatídico acontecimento, e indignada, dá uns tapas na cara dele, e a partir desse acontecimento que se dá inicio ao desenrolar de toda a trama, onde Ivy resolve em nome do seu forte sentimento de amor por Lucius pedir permissão aos Conselheiros, para ir as outras cidades e buscar uma medicação para só assim poder recuperar a vida dele, todos se mostram contrários, menos o seu pai Edward Walker, que resolve também revelar para Ivy, todos os segredos envolvendo eles e todos que fundaram a vila, é partir daí que vai se montando todos os quebra-cabeças, que gira em torno do filme, um deles é quando Edward ao levar Ivy para uma cabana abandonada, e ela então ao tocar numa figura com garras, entra em pânico ao pressentir que só podia ser “Aqueles que Não Mencionamos”, é nesse momento que o pai dela a revela que aquilo não é real, a figura daquela foi uma criação dos Conselheiros, como forma de impedir que todos saíssem da vila, Edward já tinha ouvido da lenda dessa tal criatura na época em que lecionava História na Faculdade da Pensilvânia, e dessa maneira ele então esclarece para Ivy como surgiu a ideia dessa criatura para o povoado. E também revela que os acontecimentos das mutilações dos animais foram feitas por eles para assim colocar mais pavor em todos do povoado. Ao ouvir todas essas revelações, Ivy fica indignada ao saber que tudo ali não passava de uma farsa.




E assim dá-se inicio a jornada dela para entrar na inóspita floresta, cheia de galhos e folhas secas, o que já dava uma pura atmosfera de medo, para assim poder cruzar a fronteira e pegar a medicação para Lucius, enquanto que Edward leva a maior bronca dos outros Conselheiros da Vila, por ter permitido aquele tipo. Ivy na sua jornada caminhando pela apavorante floresta, começa a sentir a sensação de estar sendo perseguida por “Aquele que Não Mencionamos”, a perseguição dele por Ivy gera o momento do filme marcado por longas cenas de pura emoção, perseguição, suspense, pânico, medo e tensão, que termina no momento em Ivy ao sentir que estava próxima do mesmo buraco onde havia caído anteriormente, fica parada até a hora em que ao sentir a aproximação da criatura se afasta do buraco e deixa essa criatura cair no buraco, e então o espectador acaba sabendo que a pessoa por trás daquela fantasia era Noah, que adquiriu ao saber que debaixo de sua casa havia uma fantasia dessa criatura, e a usou para botar medo e perseguir, enquanto, vai continuando sua jornada atrás da medicação para salvar a vida de seu amado Lucius, nesse mesmo momento, o espectador fica sabendo a revelação de um outro segredo envolvendo todos os membros do Conselho do Vilarejo, é quando Edward e outra companheira do Conselho, fecham a porta de sua casa, mexem numa caixa, que escondia como segredo uma foto com ele e todos os membros do Conselho do Vilarejo, aparecem em frente a um Centro de Ajuda, trajando roupas contemporâneas, fica claro que foi onde todos haviam se conhecido quando tinham passado cada um por dramas difíceis, como por exemplo, a Senhorita Clark, ter tido uma irmã morta assassinada, Edward vê o pai morrer por causa do dinheiro, entre os mais diversos exemplos, fica claro que a história aparentemente ambientado no século 19 é na verdade contemporâneo , é a prova disso, é no momento onde Ivy consegue pular o muro que a leva para as outras cidades, e nesse mesmo momento ela é parada por um Guarda Florestal , que dirigia um carro que tinha o curioso nome de Reserva Florestal Walker, com muita insistência ela consegue convencer o guarda que precisava de uma medicação para levar para Lucius e termina o filme mostrando ela finalmente conseguindo levar a medicação até o seu amado Lucius. Pode-se dizer no contexto geral a respeito do filme, que como eu já havia descrito desde o começo, as aparências enganam, por trás de toda essa atmosfera sobrenatural, por trás do modo dos figurinos de época, o filme guarda toda uma atmosfera cheia de muitos mistérios, muitos segredos. Pode-se avaliar pelo ponto de vista antropológico, o filme passa uma interessante ideia de retratar como que ainda em pleno século 21, existem povos em diferentes países que vivem longe de todos os recursos da modernidade, como os mostrados no filme, e dentro de um país de primeiro mundo como os Estados Unidos, ainda existem povoados que ainda vivem dessa maneira antiga, vestindo roupas do século 19, e vivendo sobre um modo de vida puritanista, conservador, paternalista, como retratado no filme. Um povo, que gosta de viver uma vida pacata, harmoniosa, preservando a inocência através da ignorância, num ponto de vista mais antropológico. O filme tecnicamente é brilhante, principalmente no aspecto visual, numa brincadeira entre o vermelho e o amarelo, a paisagem da floresta sem vida, cheia de lama, com galhos e as folhas secas, carrega no filme um aspecto visual de uma característica de filme assombroso, o que torna junto com a criatura sobrenatural, que na verdade era uma pura invenção dos Conselheiros, a ideia de um suspense apavorante. É no aspecto do ponto de vista do enredo, ele também é ótimo, principalmente na ideia de mostrar como o amor não tem barreiras, sentimento que é bem mostrado no ferreiro Lucius Hunt, pela jovem cega Ivy Walker, e o que mais me admira no filme, foi ver como a própria Ivy, mesmo sendo cega, soube mostrar coragem enfrentar qualquer obstáculo em nome do seu amado Lucius. Um filme bacana, que merece ser visto e revisto. Bom é isso o que posso colocar sobre a minha impressão de “A Vila”.

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